quinta-feira, 22 de abril de 2010

Misantropia


Olá, gente.
Hoje venho aqui falar de algo que sou acometido desde guri, a misantropia. Vários motivos me levaram a querer falar sobre isso, mas o principal foi este enorme feriadão carioca e a minha total falta de programação que envolva atividades sociais.
Fico pensando nas causas que levam alguém a ser um misantropo. É uma pré-disposição genética? É psicológico causado por traumas? Medos? Tudo? Nada? Enfim... uma gama enormes de possibilidades e como não sou do ramo das ciências da saúde não vou abordar isto. Pretendo me focar mais nos benefícios e nos contras, pois, como já disse, sou um misantropo e acho que ser um ajudou bastante na minha formação.
Antes gostaria de definir o que é ser um misantropo. A palavra advem da palavra grega “misánthropos”, que significa mis (miséo),odeio + ánthropos, homem. Olhando nosso amigo Wikipedia encontramos algo que acho válido transcrever.
 “Os misantropos expressam uma antipatia geral para com a humanidade e a sociedade, mas geralmente têm relações normais com indivíduos específicos (familiares, amigos, companheiros, por exemplo). A misantropia pode ser motivada por sentimentos de isolamento ou alienação social, ou simplesmente desprezo pelas características prevalecentes da humanidade/sociedade.”
Como vocês já devem ter notado eu realmente tenho um desprezo muito grande pelos valores da sociedade em geral e encorporei nas minhas atitudes e aparência (uma tentativa de) ser um Übermensch. Eu olhei o vazio niilista da falta de razão para existência e busquei meus ideiais.
Citando George Carlin: “I'm an outsider by choice, but not truly. It's the unpleasantness of the system that keeps me out. I'd rather be in, in a good system. That's where my discontent comes from: being forced to choose to stay outside.” A misantropia parecia ser um caminho natural.
Eu lembro de ter saído uma vez de para uma boate. Sabe quando você olha para as pessoas a sua volta na fila e você pensa: “O que eu estou fazendo aqui?”.
Pessoas vestidas todas praticamente iguais. Pareciam que eram fabricadas em série. Suas práticas eram as melhores e se resumiam a praticamente duas: beber e beijar. A música sem qualidade alguma, apenas para fins de rebolar, demostrando assim seu grande caráter. O ambiente agressivo, escuro, com luzes fortes brilhando esporadicamente. Totalmente contra a formação biológica de primatas diurnos.
Enfim, saí de lá ao amanhecer. Acabou com meu relógio biológico e com o resto que esperança que eu tinha para com a humanidade. Fiquei com aquela sensação de que poderia estar em casa crescendo intelectualmente com um bom livro ou filme.
Não me entendam mal. Eu entendo esses rituais modernos. Precisamos deles. Nosso ID precisa ser liberado de tempos em tempos. Beijar, rebolar e transar apenas faz parte deste processo. Admiro quem os assume, mas quem assume? A hipocrisia cristã não permite.
Esse tipo de vida não é pra mim (libero meu ID de outras formas). Eu acho o misantropo a evolução do ser humano. Exagerado? Talvez. Veja bem, eu disse a evolução do ser humano e não superior ao ser humano, apenas diferente.
Uma das grandes vantagens de ser um misantropo era ter tempo para me dedicar a 3 grandes paixões. A música, leitura e cinema.
Misantropos não encaram a música como simples forma de entretenimento. É a constituição básica do nosso ser. Creio que é nosso primeiro contato (digo por volta dos 11, 12 anos) com temas mais críticos e tabus da sociedade. Ah sim, a maioria dos misantropos que conheço, grande maioria, apreciam os mesmos estilos musicais que eu (ver no post abaixo).
Leitura. Uma vez dentro do mundo fantástico do saber, introduzido pela música, a leitura é um caminho natural. Aí vai depender do gosto de cada um. Eu aprecio muito história, filosofia e psicologia nas horas vagas, porém sempre lendo uma boa literatura distópica e novelas gráficas de qualidade.
Cinema. A construção mais complexa que podemos fazer no nosso intelecto. Tudo está lá. Roteiro, música, fotografia, etc. Todas as formas de arte se encontram para dar vida a incríveis (dis)utopias.
Televisão de qualidade. Nada como ver Discovery Channel, National Geographic Channel, History Channel, HBO e derivados. Depender da televisão aberta é realmente muito triste. Temos que aguentar a doutrinação religiosa da Xuxa e de outros tantos com o “cara lá de cima”. Por que ninguém agradece ao cara lá de baixo? Aliás, para Xuxa fazer sucesso e estar até hoje em dia na tv é porque o cara lá de baixo realmente está no comando.
Dinheiro. Uma das enormes vantagens que permetiam os misantropos se desenvolverem é ter dinheiro. Não por sermos ricos, mas por não gastarmos em mais nada. Nunca saímos! Sempre temos dinheiro para um livro ou para um cd.
Os misantropos de hoje em dia ainda se benificiam da internet! Enormes conteúdos gratuitos. Agora o dinheiro rende muito mais e ainda podemos investir em tecnologia (Notebooks, PCs potentes, câmeras digitais porfissionais, etc) que nos permite ter mais acesso a mais conteúdos que nos interessam.
Coloque por baixo que cada vez que se sai no final de semana gaste-se 50 reais. Duas saídas por semana, 100 reias. Quatro semanas por mês, 400 reais. Você poderia até comprar um carro. Isso numa estimativa razoável. Tem gente que gasta 400 numa noite em bebida.
Claro, os contras. Somos introvertidos, introspectivos, tímidos, com poucas capacidades sociais (eu sou professor, então me excluo desta última) e somos malvistos pela sociedade, a “boa e velha” coerção social. Pensando bem, até que gostamos de ver que nossos valores não são apreciados pela a maioria no qual sentimos desprezo.
Bem, acho que é isso. Até o próximo post. Aliás, ter blog de aforismos é muito misantropo.
Como eu gostei de deixar músicas a respeito do tema aqui vai mais uma.

Kreator - Absolute Misanthropy

You don't know how much I hate you
And always will
I'll never crawl before your thrones
You don't know the day will come soon
When we will kill
The final holocaust for your dark hearts

Feels like I'm on poisoned adrenaline
Aggro-toxic amphetamine
This one goes out to the ones I hate
Poisoned adrenaline
Socio terror on endorphines

Come join my philosophy
- Absolute misanthrophy!

Feels like I'm on poisoned adrenaline
Aggro-toxic amphetamine
This one goes out to the ones I hate
Poisoned adrenaline
Socio terror on endorphines

Come join my philosophy
- Absolute misanthrophy!

Pain after pain
Sin after sin
You'll be the ones that will suffer
The soul always burns as
The body dacays
All that I'm able to feel

Absolute misanthrophy
Absolute misanthrophy
Absolute misanthrophy
I can't wait for you to die

sábado, 17 de abril de 2010

Classificando Pessoas



Olá pessoas.
Faz tempo que não posto... minha semana foi bem intensa, mas me deu várias idéias de temas para abordar.
Eu fiz uma reflexão dos meus padrões para amizade. Pensei e repensei  minha metodologia e cheguei em algumas conclusões que gostaria de expor agora.
Eu consegui classficar as pessoas não por ordem hierárquica de afinidade, como por exemplo, conhecido, colega, amigo, “amigão” e praticamente irmão. Eu reparei que eu possuo 5 categorias para enquadrar as pessoas e elas podem estar em mais de uma categoria ao mesmo tempo.
Eu divido as pessoas em:
Pessoas que eu não gosto, pessoas que eu não respeito, pessoas que eu não confio, pessoas que eu sinto pena e os meus amigos.
Vamos lá.
Pessoas que eu não gosto. Esta de longe é a mais abrangente. Aqui eu englobo pessoas com gosto oposto ao meu. Várias subcategorias aqui se fazem presente e vale uma ressalva. Nesta categoria entram pessoas com o gosto para determindas coisas que me incomodam de alguma forma. Ficam fora desta categoria pessoas com o gosto diferente do meu, mas que não me incomodam... coisas no qual sou indiferente.
Das subcategorias eu destaco algumas. A musical seria a mais importante, a primeira triagem. Eu tenho um gosto para música bem restrito. Já fui bem mais radical em relação a isso. Bastava não gostar do que eu gosto para entrar nesta subcategoria, hoje em dia ando mais flexível. Pode parecer cruel e um tanto irracional esta metodologia, mas com o passar do tempo (e coloca tempo nisso) eu reparei que a música é quase um carro-chefe da construção da sua vida ética e moral (e ideológica também). As pessoas interessantes, do meu ponto de vista, e entenda por interessantes pessoas com a mente aberta (paradoxal não?), liberais, críticas, muitas vezes marxistas e com opiniões fortes, são, geralmente, pessoas que gostam do mesmo tipo de música que eu amo. A recíproca nem sempre é verdadeira... mas acontece. Conheço algumas pessoas que são interessantes e não gostam do mesmo tipo de música que eu, porém elas gostam de algo que não me incomoda. Já as pessoas que gostam de algo que eu não suporto tendem a ter toda sua formação ideológica, ética e moral quase que oposta a minha.
Um exemplo. Não vou citar nomes, mas quando era criança eu tinha um grande amigo, meu melhor amigo. Nós perdemos contatos com cerca de 10 anos de idade.Estudamos juntos até então a vida toda no mesmo colégio, direitista, éramos praticamente vizinhos e fazíamos todas as atividades juntos. Até então eu já havia iniciado no mundo musical que contemplo hoje. Eu o reencontrei 15 anos mais tarde. Vamos a nossa ficha técnica atual.
Eu: Ateu, contra instituições religiosas e contra religião, anarco-comunista liberal, visual excêntrico com cabelo bem grande, barba, bem tatuado, fazendo faculdade de gegrafia.
Ele: Evangélico, faz parte do corpo juvenil da igreja, faz parte da extrema direita juvenil, visual ordinário (comum), fazendo faculdade de direito.
Agora o gosto musical:
Ele: Sertanejo, Gospel e músicas de rádio bem pops.
Eu: Heavy Metal  (menos New Metal), em especial Thrash Metal (Germânico e da Bay Area) e Progressive Metal. Hard Rock, Punk, Progressivo, Folk, Jazz, Blues, Southern Rock, MPB, Música Clássica e Samba de Raiz também me apetecem.
Só para esclarecer, eu comecei a escutar música com 7 anos devido ao vinis do meu pai. Simon and Garfunkel, The Beatles e Roxette. Não entendia nada que eles cantavam, mas a melodia me agradava bastante. Só a partir dos meus 13... 14 anos que comecei a prestar atenção nas letras e daí posso dizer que minha formação como pessoa (como sou hoje) começou.
Eu argumento que o tipo de música que eu amo instiga a reflexão crítica da nossa sociedade. Logo, sim, eu não gosto de pessoas com o gosto musical que me incomode.
Outra subcategoria do não gostar é a do visual. O mesmo vale para essa subcategoria. Visuais que não me incomodam não entram.
Visuais que são um tapa na cara da sociedade me agradam bastante. Gosto de agredir o senso comum das pessoas e exigir respeito pelas minhas escolhas; e admiro muito quem faz o mesmo. Viva a diversidade e o diferente. Padronização é um meio de controle de uma ideologia disfarçada de senso comum, coerção social. Uma músca que sempre me remete a este pensamento é a músca “Beautiful” do Marillion (deixarei a letra no final do post).
Linguagem verbal e corporal também é algo que me incomoda bastante. Seria uma subcategoria que considero.
Vou deixar bem claro aqui. Não gostar não é o mesmo que desrespeitar. Eu não aprovo e muito menos apoio visuais, gostos musicais e linguagem que não gosto, porém NUNCA desrespeito quem os tem. As escolhas de cada um é um processo interno e profundo. Agredir alguém verbalmente ou fisicamente por discordar de você é algo que não aprovo e, de fato, abomino. Mas sempre estou disposto a debater sobre essas questões de gosto, por que não?
Pessoas que eu não respeito. Muita calma, gente. Não respeitar não é o mesmo que desrespeitar. O meu não respeitar é não levar em considereção a opinião de certas pessoas que estão, ao meu ver, totalmente corrompidas por uma doutrinação que eu não apóio e sou contra. Ou seja, elas não estão abertas ao diálogo e muito menos se questionam se o que seguem, cegamente, é o correto.
Nisto eu englobo duas subcategorias. Religiosos e pessoas politicamente de direita.
Pessoas que eu não confio. Acho que esta se explica por si mesmo. Existem pessoas que eu gosto, respeito, mas não confio. Isso pode estar atrelado a diversas causas. Desde algo totalmente sem fundamento como não ir com a cara da pessoa por causa da cor dos olhos. Realmente eu possuo uma péssima tendência em não ir com a cara de pessoas de olhos claros. Não sei explicar o por que. Já li na revista Mente e Cérebro que pessoas de olhos castanhos e escuros transmitem mais segurança. Enfim, também não confio muito nas de olhos totalmente negros. Sem explicação também. Eu lamento por essa minha deficiência. Pessoas de cabelo loiro também me causam uma certa resistência... lamento não poder explicar também. Eu devo ter (com certeza) algum distúrbio neurológico. O que me remete a olhar para meus amigos e ver que todos possuem olhos castanhos escuros e cabelos escuros. Pessoas muito malhadas e bronzeadas de sol me causam certa retração também. Não é a cor da pele que influencia nisso (não sou racista), tenho amigos negros com a tonalidade da pele igual ou mais escura do que alguém que fica torrando na praia. Deve ser pelo o ato de torrar na praia, talvez. Tenho que dedicar mais tempo para refletir sobre isso.
Pessoas que sinto pena. Essa é uma categoria complicada de explicar. Basicamente essas pessoas estão nas outras 3 categorias citadas anteriormente. Para não ter que explicar para um amigo o porque de eu não gostar de determinada pessoa (e explicar que eu não gosto, não respeito e não confio) falo que sinto pena.
E, por fim, a categoria dos meu grandes amigos. Que tem somente 5 integrantes (não considero família nestas categorias, tenho outras categorias especiais para eles, basicamente duas. Gosto e não gosto). A maioria deles possuem religião, mas tem a mente aberta. Apenas 1 não gosta do mesmo tipo de música que eu, mas a que ele gosta não me incomoda. Todos possuem visual que não me incomoda.
São 5 grande irmãos que posso contar sempre e a recíproca é verdadeira.
Bem, gente. Creio que é isso. Tentarei postar mais 2 vezes durante o feriadão para compensar a semana que fiquei sem postar nada.
Até lá.

Beautiful - Marillion
Composição: Hogarth/Kelly/Mosley/Rothery/Trewavas
Everybody knows that we live in a world
Where they give bad names to beautiful things
Everybody knows that we live in a world
Where we don't give beautiful things a second glance
Heaven only knows we live in a world
Where what we call beautiful is just something on sale
People laughing behind their hands while the fragile
And the sensitive are given no chance
And the leaves turn from red to brown
To be trodden down, to be trodden down
And the leaves turn from red to brown
Fall to the ground, fall to the ground
We don't have to live in a world
Where we give bad names to beautiful things
We should live in a beautiful world
We should give beautiful a second chance
And the leaves fall from red to brown
To be trodden down, to the trodden down
And the leaves turn green to red to brown
Fall to the ground, and get kicked around
You're strong enough to be...
Have you the faith to be...?
You're sane enough to be..
Honest enough to say...
Don't have to be the same...
Don't have to be this way
C'mon and sign your name
You wild enough to remain beautiful
Beautiful
And the leaves turn from red to brown
To be trodden down, trodden down
And we all fall green to red to brown
Fall to the ground, we could turn it around
You're strong enough to be..
Why don't you stand up and say?
Give yourself a break
They laugh at you anyway
So why don't you stand up and be Beautiful?

sábado, 3 de abril de 2010

Autoritarismo


Olá, gente. Este é meu primeiro post sério depois do anúncio da volta do blog. Espero que inspire boas reflexões.
Qual o motivo da escolha do tema? Bem, eu já vinha com essa idéia desde algum tempo. Certamente fui inspirado por acontecimentos que presenciei e pelos meus ídolos mais imediatos (George Carlin, Mille Petrozza e Alan Moore) que usam dessa temática para suas criações artísticas constantemente. 
Autoritarismo e autoridade são a mesma coisa? Um está contido no outro? Um, necessariamente, exclui o outro? Qual a diferença? 
Primeiramente vou analisar os tipos de autoritarismo que encontro no dia-a-dia. São 3 tipos, porém você certamente vai argumentar que 2 deles são a mesma coisa. Tentarei mostrar que, embora parecidos, os mecanismos de coerção são diferentes. 
Autoritarismo através do poder. Nesse tipo de autoritarismo o indivíduo desfruta de poderes de diversas ordens, que depende da função que este indivíduo ocupa. Neste caso a coerção funciona através de leis e regulamentos. Os governos são um bom exemplo disso. Você é obrigado a seguir todas as leis. Isso não é um tipo de autoritarismo? Pense bem. Quem dá poder para essas pessoas? Isso, você mesmo. Digo, a maioria. Nós vivemos num sistema de opressão da maioria sobre as minorias. Minorias essas que sofrem do autoritarismo delegado a esses indivíduos que exercem o poder, as autoridades. 
Leis... embora longe de ser religioso lembro das palavras de Santo Agostinho “Uma lei injusta simplesmente não é lei”. As leis são moralmente corretas? Certamente que não. Basta olhar para a Alemanha nazista ou para o Brasil de 200 anos atrás (e o de hoje) quando a escravidão era legal. Então quando sofremos de coerção governamental (e social através da mídia) para seguirmos leis que são moralmente discutíveis, que favorecem grupos privilegiados ou que não fazem o menor sentido, não é uma forma de autoritarismo? 
É aqui que entra algo que tenho escutado muito do George Carlin, tenho visto do Alan Moore (V de Vingança) e escutado do Mille Petrozza (Violent Revolution cd e outros) e que eu compartilho profundamente. Ninguém questiona mais as coisas. Nada. Nunca. 
Crescemos e somos formados dentro dessa ideologia disfarçada de senso comum de não questionar nada. Nossos pais são autoritários e o exercem pelo poder. Logicamente que eles nunca vão nos ensinar a questionar as autoridades justamente porque eles são autoridades. Pais de hoje em dia (e de antigamente), talvez por uma herança militar da nossa recente história, não nos permitem questionar nada. Caso questionemos somos punidos e assim se reproduz esse sistema. 
Toda a nossa vida escolar até a academia é repleta de autoritarismo. Eu sou aluno do nível superior da UFRJ e também sou licenciando de um colégio, que prefiro não dizer o nome, no qual os professores (e diretores) são extremamente autoritários e soberbos, mas isso fica para outro post. 
Se os nossos pais e nossos professores não nos ensinam a questionar as autoridades e as coisas que nos são postas como normais (senso comum), como a sociedade pode evoluir (num sentido mais utópico)? Isso se reflete nos nossos governos neoliberais e de direita desde 1500, quando o Brasil foi invadido por uma horda de portugueses sedentos por secar nossas terras. Algo mudou? Não retiram mais nosso pau-brasil, é verdade, agora é o momento da soja. Enfim, não quero entrar na questão política em si. Fica para outro post. 
Mas nesses 3 meios do nosso dia-a-dia, o civil nas ruas, o familiar dentro de casa e o estudantil nas escolas, a máxima é sempre a mesma. Um discurso positivista e autoritário que sempre responde com violência a algumas pessoas de mente sã e que realmente pensam. Primeiro vem a repreensão. “Você está respondendo para mim?”. Depois a ordem. “Cala a boca e faz isso”. E, por fim, a violência. Quantas vezes você não apanhou ou ficou de castigo em casa? Foi suspenso ou expulso do colégio? Ou, quem sabe, preso pela polícia? Apenas por questionar.
Contra o autoritarismo eu advogo por duas saídas. Desobediência civil ou violência. Certamente a primeira é mais interessante e é a que eu recomendo. Mas a segunda, algumas vezes, é necessária. 
A segunda forma de autoritarismo é semelhante à do poder. Porém não muito. Talvez você não concorde, mas e daí? Estamos aqui para refletir. Bem, a segunda forma é cruel e eu chamo autoritarismo através do medo. 
Isso vale bastante para a religião. Por mais que você não concorde com o que é dito você tem medo de questionar simplesmente porque alguma figura paterna onisciente e onipresente e que te ama muito te mandará para o inferno. Basta olhar para os 10 mandamentos. Praticamente todos são conversa fiada. Sim, eu fui católico por um tempo na vida. Comparo esse tempo a idade média e o iluminismo (ciência) me tirou das trevas da ignorância. Enfim, até o mais capital dos mandamentos, não matarás, é questionável. Quantas pessoas morrem por/para Deus durante um dia? E por toda a história? 
Autoritarismo através do medo funciona pois o doutrinamento de conceitos do que é certo e errado são profundamente enterrados dentro do indivíduo (na maioria dos casos) durante a infância. A mente frágil sem defesas e sedenta por absorver tudo vai tomar como verdade o que for dito. Deus é algo profundamente forte para alguém que acredita, afinal tudo existe e acontece segundo sua vontade. Imagina o peso disso para alguém que questiona a autoridade eclesiástica? Pior, não é apenas o autoritarismo da instituição religiosa que funciona bem ,e sim, a última defesa contra o questionamento racional... Deus irá te julgar quando você morrer. Como questionar um ser poderoso que vai te julgar no final das contas? O medo e a insegurança que esse tipo de autoritarismo manipula o torna cruel psicologicamente. Porém, uma vez questionado e livre das concepções religiosas da vida, não existe punição. Esse é o único tipo de autoritarismo que blefa. Sua única arma é o medo. Claro que em certos países fundamentalistas isso pode acabar muito mal, assim como acabava na Europa da idade média. 
Esta é a principal diferença entre o autoritarismo pelo poder e pelo medo. Um funciona manipulando sua insegurança e não tem consequências caso você questione, mas até ser capaz de questionar o caminho interno das suas convicções, morais e éticas, que vão demandar tempo para se percorrer, o sofrimento é intenso. Já o outro, o do poder, é mais “fácil” de se questionar, mas as consequências são reais e, muitas vezes, duras. 
Agora um tipo de autoritarismo perigoso. O autoritarismo através do respeito. Este é realmente envolvente. Pense bem, você admira uma certa autoridade acadêmica, por exemplo, as concepções dele não acabam, de certo modo, sendo suas também? Um autoritarismo brando de idéias a respeito do mundo? Veja o meu exemplo. George Carlin, Mille Petrozza e Alan Moore. No começo eu tinha minhas concepções do mundo e de certa forma se adequavam as concepções deles. Mas vamos supor que um deles apóie algo que eu não apoio. Você acha que eu estaria mais sujeito a mudar de idéia apenas porque eu os admiro? Certamente que sim. É uma forma de autoritarismo que você consente. Questionar isso é difícil. Você na verdade está questionando você mesmo, revendo seus conceitos. Olhar para si mesmo e ver que isso não está tão correto assim é um processo demorado, penoso, invasivo e profundo. Pense em Marx. Até nações surgiram baseadas em suas idéias. Esta forma de autoritarismo, a meu ver, é primária. A partir dela que as outras se estruturam e se propagam. 
Então... autoritarismo e autoridade são a mesma coisa? Não. Um está contido no outro? A meu ver autoritarismo está sempre ligado às autoridades, mas a recíproca pode não ser verdadeira. Um, necessariamente, exclui o outro? Certamente que não. Qual a diferença? Autoritarismo é exercido por autoridades (entenda autoridade como pessoas com poder ou que nos influenciam diretamente). Já as autoridades podem exercer o autoritarismo ou não. 
Pois é, pessoas. Espero que isso sirva para  vocês refletirem sobre vocês mesmo e para pensar a sociedade em que vivemos. Vejo vocês na próxima. 
Obrigado.