sábado, 3 de abril de 2010

Autoritarismo


Olá, gente. Este é meu primeiro post sério depois do anúncio da volta do blog. Espero que inspire boas reflexões.
Qual o motivo da escolha do tema? Bem, eu já vinha com essa idéia desde algum tempo. Certamente fui inspirado por acontecimentos que presenciei e pelos meus ídolos mais imediatos (George Carlin, Mille Petrozza e Alan Moore) que usam dessa temática para suas criações artísticas constantemente. 
Autoritarismo e autoridade são a mesma coisa? Um está contido no outro? Um, necessariamente, exclui o outro? Qual a diferença? 
Primeiramente vou analisar os tipos de autoritarismo que encontro no dia-a-dia. São 3 tipos, porém você certamente vai argumentar que 2 deles são a mesma coisa. Tentarei mostrar que, embora parecidos, os mecanismos de coerção são diferentes. 
Autoritarismo através do poder. Nesse tipo de autoritarismo o indivíduo desfruta de poderes de diversas ordens, que depende da função que este indivíduo ocupa. Neste caso a coerção funciona através de leis e regulamentos. Os governos são um bom exemplo disso. Você é obrigado a seguir todas as leis. Isso não é um tipo de autoritarismo? Pense bem. Quem dá poder para essas pessoas? Isso, você mesmo. Digo, a maioria. Nós vivemos num sistema de opressão da maioria sobre as minorias. Minorias essas que sofrem do autoritarismo delegado a esses indivíduos que exercem o poder, as autoridades. 
Leis... embora longe de ser religioso lembro das palavras de Santo Agostinho “Uma lei injusta simplesmente não é lei”. As leis são moralmente corretas? Certamente que não. Basta olhar para a Alemanha nazista ou para o Brasil de 200 anos atrás (e o de hoje) quando a escravidão era legal. Então quando sofremos de coerção governamental (e social através da mídia) para seguirmos leis que são moralmente discutíveis, que favorecem grupos privilegiados ou que não fazem o menor sentido, não é uma forma de autoritarismo? 
É aqui que entra algo que tenho escutado muito do George Carlin, tenho visto do Alan Moore (V de Vingança) e escutado do Mille Petrozza (Violent Revolution cd e outros) e que eu compartilho profundamente. Ninguém questiona mais as coisas. Nada. Nunca. 
Crescemos e somos formados dentro dessa ideologia disfarçada de senso comum de não questionar nada. Nossos pais são autoritários e o exercem pelo poder. Logicamente que eles nunca vão nos ensinar a questionar as autoridades justamente porque eles são autoridades. Pais de hoje em dia (e de antigamente), talvez por uma herança militar da nossa recente história, não nos permitem questionar nada. Caso questionemos somos punidos e assim se reproduz esse sistema. 
Toda a nossa vida escolar até a academia é repleta de autoritarismo. Eu sou aluno do nível superior da UFRJ e também sou licenciando de um colégio, que prefiro não dizer o nome, no qual os professores (e diretores) são extremamente autoritários e soberbos, mas isso fica para outro post. 
Se os nossos pais e nossos professores não nos ensinam a questionar as autoridades e as coisas que nos são postas como normais (senso comum), como a sociedade pode evoluir (num sentido mais utópico)? Isso se reflete nos nossos governos neoliberais e de direita desde 1500, quando o Brasil foi invadido por uma horda de portugueses sedentos por secar nossas terras. Algo mudou? Não retiram mais nosso pau-brasil, é verdade, agora é o momento da soja. Enfim, não quero entrar na questão política em si. Fica para outro post. 
Mas nesses 3 meios do nosso dia-a-dia, o civil nas ruas, o familiar dentro de casa e o estudantil nas escolas, a máxima é sempre a mesma. Um discurso positivista e autoritário que sempre responde com violência a algumas pessoas de mente sã e que realmente pensam. Primeiro vem a repreensão. “Você está respondendo para mim?”. Depois a ordem. “Cala a boca e faz isso”. E, por fim, a violência. Quantas vezes você não apanhou ou ficou de castigo em casa? Foi suspenso ou expulso do colégio? Ou, quem sabe, preso pela polícia? Apenas por questionar.
Contra o autoritarismo eu advogo por duas saídas. Desobediência civil ou violência. Certamente a primeira é mais interessante e é a que eu recomendo. Mas a segunda, algumas vezes, é necessária. 
A segunda forma de autoritarismo é semelhante à do poder. Porém não muito. Talvez você não concorde, mas e daí? Estamos aqui para refletir. Bem, a segunda forma é cruel e eu chamo autoritarismo através do medo. 
Isso vale bastante para a religião. Por mais que você não concorde com o que é dito você tem medo de questionar simplesmente porque alguma figura paterna onisciente e onipresente e que te ama muito te mandará para o inferno. Basta olhar para os 10 mandamentos. Praticamente todos são conversa fiada. Sim, eu fui católico por um tempo na vida. Comparo esse tempo a idade média e o iluminismo (ciência) me tirou das trevas da ignorância. Enfim, até o mais capital dos mandamentos, não matarás, é questionável. Quantas pessoas morrem por/para Deus durante um dia? E por toda a história? 
Autoritarismo através do medo funciona pois o doutrinamento de conceitos do que é certo e errado são profundamente enterrados dentro do indivíduo (na maioria dos casos) durante a infância. A mente frágil sem defesas e sedenta por absorver tudo vai tomar como verdade o que for dito. Deus é algo profundamente forte para alguém que acredita, afinal tudo existe e acontece segundo sua vontade. Imagina o peso disso para alguém que questiona a autoridade eclesiástica? Pior, não é apenas o autoritarismo da instituição religiosa que funciona bem ,e sim, a última defesa contra o questionamento racional... Deus irá te julgar quando você morrer. Como questionar um ser poderoso que vai te julgar no final das contas? O medo e a insegurança que esse tipo de autoritarismo manipula o torna cruel psicologicamente. Porém, uma vez questionado e livre das concepções religiosas da vida, não existe punição. Esse é o único tipo de autoritarismo que blefa. Sua única arma é o medo. Claro que em certos países fundamentalistas isso pode acabar muito mal, assim como acabava na Europa da idade média. 
Esta é a principal diferença entre o autoritarismo pelo poder e pelo medo. Um funciona manipulando sua insegurança e não tem consequências caso você questione, mas até ser capaz de questionar o caminho interno das suas convicções, morais e éticas, que vão demandar tempo para se percorrer, o sofrimento é intenso. Já o outro, o do poder, é mais “fácil” de se questionar, mas as consequências são reais e, muitas vezes, duras. 
Agora um tipo de autoritarismo perigoso. O autoritarismo através do respeito. Este é realmente envolvente. Pense bem, você admira uma certa autoridade acadêmica, por exemplo, as concepções dele não acabam, de certo modo, sendo suas também? Um autoritarismo brando de idéias a respeito do mundo? Veja o meu exemplo. George Carlin, Mille Petrozza e Alan Moore. No começo eu tinha minhas concepções do mundo e de certa forma se adequavam as concepções deles. Mas vamos supor que um deles apóie algo que eu não apoio. Você acha que eu estaria mais sujeito a mudar de idéia apenas porque eu os admiro? Certamente que sim. É uma forma de autoritarismo que você consente. Questionar isso é difícil. Você na verdade está questionando você mesmo, revendo seus conceitos. Olhar para si mesmo e ver que isso não está tão correto assim é um processo demorado, penoso, invasivo e profundo. Pense em Marx. Até nações surgiram baseadas em suas idéias. Esta forma de autoritarismo, a meu ver, é primária. A partir dela que as outras se estruturam e se propagam. 
Então... autoritarismo e autoridade são a mesma coisa? Não. Um está contido no outro? A meu ver autoritarismo está sempre ligado às autoridades, mas a recíproca pode não ser verdadeira. Um, necessariamente, exclui o outro? Certamente que não. Qual a diferença? Autoritarismo é exercido por autoridades (entenda autoridade como pessoas com poder ou que nos influenciam diretamente). Já as autoridades podem exercer o autoritarismo ou não. 
Pois é, pessoas. Espero que isso sirva para  vocês refletirem sobre vocês mesmo e para pensar a sociedade em que vivemos. Vejo vocês na próxima. 
Obrigado.